Andréa Carla Machado
Doutora em Educação Especial. Pós-doutoranda na Universidade Federal de São Carlos.
Vera Lúcia Messias Fialho Capellini
Doutora em Educação Especial. Professora do Departamento de
Educação e do Programa de Pós-Graduação em Aprendizagem e Desenvolvimento Humano e Docência na Educação Básica da Faculdade de Ciências da Unesp – Bauru.
Maria de Fátima Belancieri
Doutora em Psicologia. Professora do Departamento de Psicologia
da Universidade Paulista – Araçatuba.
O desenvolvimento de talentos pode ser o foco de inovadores esforços para crianças e jovens capazes, que se concentram no desenvolvimento de estímulos, na motivação e em oportunidades para a aprendizagem. Nessa orientação, o desenvolvimento de talentos depende dos membros da família, dos professores incentivadores, dos colegas que valorizam tal aspecto e dos especialistas que alcançaram sucesso em vários campos e servem como mentores para ajudar os estudantes a desenvolver suas aptidões em capacidades e realizações.
Nessa perspectiva, a escola tem um papel primordial em desenvolver programas que visam o desenvolvimento e as necessidades do estudante com AH/SD.
Os estudantes com AH/SD podem apresentar desvantagens quando comparados aos seus pares, como por exemplo:
Nessa direção, torna-se singular a necessidade dos serviços especiais suplementares e de um sistema de ensino educacional diferenciado para auxiliar no desempenho desses estudantes, visto que todos precisam ser motivados para que atinjam seu pleno desenvolvimento. Para muitos estudantes com AH/SD, somente o ensino regular não fornece os desafios de que precisam para se manterem estimulados ou para aprenderem em um ritmo mais acelerado e adequado. Assim, o desenvolvimento do planejamento deve ser direcionado ao ensino, bem como a parceria entre o professor da classe comum e do professor especializado em Educação Especial.
Isso posto, os professores devem ter consciência de três características comuns a estes estudantes: sensibilidade, perfeccionismo e intensidade (SMITH, 2008). Por exemplo, a sensibilidade pode conduzir alguns estudantes com AH/SD a reagir de modo contundente a uma pequena crítica. Isto, junto à necessidade de perfeição, provoca em muitos deles a experiência de reações negativas que são vistas como falhas. A intensidade pode se manifestar social e academicamente. O reconhecimento dessas características e de estilos de aprendizagem pode auxiliar o professor a entender as necessidades educacionais desses estudantes.
Diante disso, torna-se necessário o planejar, no sentido de organizar o que é pretendido fazer com nosso estudante.
!FIMPAG! !PAG!De acordo com Leal (2008), todas as ações do ser humano são uma maneira de planejamento. Encontramos os que comentam: “se vou ensinar a mesma coisa, porque planejar novamente?” E assim se repetem planos de aulas, por diversas vezes. No entanto, ao planejar, ativamos elementos essenciais, como previsão e organização, que direcionam de modo eficaz nossas ações.
No contexto da educação, planejar é essencial para alcançar os objetivos propostos, tanto vinculados à equipe educacional, quanto para o professor em sala de aula (PARRA apud SANT'ANNA; ENRICONE; ANDRÉ; TURRA, 1995).
No contexto do planejamento de ensino, é necessário entender os aspectos relacionados à escola também. Assim, para o ensino da criança e do jovem superdotado, e para maior clareza metodológica, convém distinguir os aspectos internos da escola.
Os aspectos internos recorrem sobre a decisão de desenvolver o potencial dos estudantes com AH/SD, caracterizando-se como uma questão ampla que exige reflexão contínua da equipe escolar, como por exemplo, no currículo e em programas de ensino.
O modelo de currículo baseado em Guilford (apud SMITH, 2008) e ilustrado pela Figura 1 é de grande proveito para os professores empenhados em ampliar as capacidades criativas de seus estudantes, como, por exemplo, desenvolver o pensamento divergente, que obriga o estudante a buscar inúmeras alternativas na resolução de problemas. De acordo com esse modelo, os professores precisam estimular seus estudantes na criação de soluções e de formas originais de expressão.
Figura 1 – Modelo de currículo baseado em Guilford
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Quanto aos programas, existe uma categorização retirada da bibliografia americana e bastante universalizada que traz a diferenciação entre programas de aceleração, agrupamento e enriquecimento. Cada um desses apresenta vantagens, conforme pontua Smith (2008).
É importante que o professor esteja ciente dos tipos de programas que podem ser planejados em relação ao ensino do estudante com AH/SD.
!FIMPAG! !PAG!
Todo planejamento relacionado ao ato de ensinar deve ser seguido pelo professor para auxiliar a criança ou o jovem nas suas necessidades (LEAL, 2008). Dessa forma, o ato de planejar apresenta singularidades que estão diretamente vinculadas à ação didática, resultando em um plano de ensino detalhado, que veremos a seguir:
!FIMPAG! !PAG!Figura 2 – Elementos constitutivos do plano de ensino
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Nessa perspectiva, o planejamento de aula é um exercício de elaboração que deve ser interativo e envolvente, no qual os estudantes possam aprender e demonstrar conhecimento sobre o que o professor predeterminou. Os professores devem dar explicações claras do conteúdo a ser abordado antes de oferecerem instruções sobre como os estudantes se envolverão com o conteúdo. Para isso, é recomentado seguir um roteiro que pode ser semestral, anual ou bimestral. O planejamento deve conter elementos indispensáveis para a organização das ideias, conforme vimos anteriormente.
Já o plano de ensino é composto pelo registro a ser construído para a execução de um programa ou atividade, como podemos visualizar na Figura 3.
Figura 3 – Plano de ensino
Fonte: Elaborado pelas autoras.
!FIMPAG! !PAG!Assim, é importante que você tenha claro que o planejamento é ferramenta fundamental no aspecto pedagógico para o trabalho com o estudante com AH/SD. Vale ressaltar que não há uma única maneira de planejar, portanto, é oportuno dizer que a organização da educação não é uma prática neutra, mas baseia-se tanto em princípios teóricos quanto práticos.
Maximizar o envolvimento dos estudantes com AH/SD é parte de um modelo interativo de ensino, no qual o conhecimento é construído no processo da própria aprendizagem, ou seja, à medida que os estudantes se envolvem em atividades inclusivas de maneira significativa, garantimos a estimulação e conexões entre os conteúdos ensinados (OLIVEIRA; MACHADO; CAPELLINI, 2014).
Para que isso aconteça, a avaliação e o planejamento informam ao professor as condições nas quais ocorrerá o ensino e os conteúdos de aprendizagem, portanto, apresentam fatores a serem considerados no planejamento. Por exemplo, ao descrever o ambiente da sala de aula, sua estrutura e organização, o professor poderá identificar aspectos que são facilitadores ou dificultadores para a aprendizagem.
Os elementos dispostos e apresentados neste texto podem ser muito significativos para que o professor realize o seu planejamento do ensino, como, por exemplo, analisar a disposição das carteiras e questionar: propiciam a interação e a colaboração entre os estudantes? Permitem, da forma como estão dispostas, que o professor explore adequadamente o conteúdo que irá ministrar? Diminui ou possibilita a dispersão dos estudantes? A mesma reflexão pode ser feita ao pensar nos materiais ou recursos utilizados para o ensino no APE (Atendimento Pedagógico Especializado): são interessantes? Apoiam o conteúdo? Fazem parte do interesse dos estudantes?
Estas questões devem ser consideradas no planejamento do ensino para que seja propiciador da aprendizagem, considerando-se que o avanço nos processos de desenvolvimento e de aprendizagem é possível quando existe a influência dos professores. Isso significa que não há progresso sem a ação conjunta ou participação colaborativa dos membros envolvidos no contexto escolar. É necessário determinar o perfil compartilhado dos apoios de que precisa um estudante, e o que constitui a base principal para promover sua independência, suas relações, suas contribuições, sua participação escolar.
Isso posto, a equipe escolar deve ser flexível e contemplar a utilização de muitas formas de avaliação, para assegurar que os estudantes com AH/SD sejam capazes de demonstrar os seus conhecimentos e as suas habilidades.
No entanto, é salutar que relevem de modo singular a importância da preparação desse elemento, a avaliação, lançando mão do planejamento e do enfoque no perfil cognitivo-linguístico de seus estudantes (OLIVEIRA; MACHADO; CAPELLINI, 2014).
!FIMPAG! !PAG!Alguns procedimentos de avaliação foram apontados no início do texto na tentativa de resgatar formas abertas e ao mesmo tempo direcionadoras para a ação do professor e também para reafirmar a relação intrínseca entre avaliação e planejamento, visto que uma não se dá sem a outra, ou seja, para ensinar é preciso planejar e para planejar é preciso avaliar. Talvez seja esta uma obviedade pedagógica: todo professor ou gestor sabe disso! É verdade, mas entre o saber e o fazer; entre o que se teoriza e o que se aplica observam-se distanciamentos que se transformam em verdadeiros abismos.
A prática inclusiva nos desafia a pensar formas de avaliação e planejamento que permitam o trabalho docente na diversidade, uma vez que estamos falando de múltiplas diferenças que são incorporadas pela escola, desde aqueles estudantes que, por diversos fatores, possuem dificuldades de aprendizagem até aqueles que possuem deficiências, transtornos em seu desenvolvimento ou altas habilidades.
Da mesma forma, existem diferenças intensas na forma de aprender, ou seja, nem todo estudante com deficiência intelectual ou visual, por exemplo, aprende da mesma forma, do mesmo jeito, ao mesmo tempo – assim também ocorre ao estudante com AH/SD. Portanto, a diferença é inerente ao desenvolvimento humano e a escola contemporânea se vê frente à heterogeneidade na forma de aprender. Assim, não há como seguir um rígido padrão de ensino, o que não significa negar a necessidade do planejamento (OLIVEIRA; MACHADO; CAPELLINI, 2014).
Para o registro deste planejamento, tanto a literatura nacional como a internacional têm apontado o PAI (Plano de Atendimento Individualizado) – terminologia proposta pelo CAPE/SEE, mas com o mesmo significado de PEI utilizado no Brasil e em outros países – como forma efetiva de acompanhamento da escolarização e aprendizagem dos estudantes público-alvo da Educação Especial.
Segundo Oliveira, Machado e Capellini (2014), o PAI é uma alternativa promissora, na medida em que oferece parâmetros mais claros a serem atingidos com cada aluno, sem negar os objetivos gerais colocados pelas propostas curriculares. Assim, o PAI é um documento no qual se registra o planejamento individualizado daqueles que necessitam de análise e proposição mais particularizada para sua aprendizagem, masque não se afasta do currículo do ano ou série em que o estudante está matriculado.
Assim, configura-se como um documento importante, porque permite ao professor clareza nas ações a serem desenvolvidas em âmbito geral e as específicas para aqueles que necessitam de algumas adequações em seu processo de aprendizagem.
Dessa maneira, todos os elementos envolvidos no planejamento salientado no início desse texto são preponderantes na composição do PAI e serão explicitados, com exemplos de estratégias a partir do texto 2 desta disciplina.
!FIMPAG! !PAG!Cursista, como você observou, a avaliação discutida detalhadamente da disciplina D10, junto com o conteúdo desenvolvido no presente texto sobre o planejamento envolvem vários aspectos a serem considerados, tanto gerais quanto específicos, para que a escola e a sala de aula se tornem inclusivas.
O desafio é grande e o planejamento é uma possibilidade de minimizar as dificuldades vivenciadas nesse processo. De posse do registro originário da análise dos conteúdos e habilidades a serem desenvolvidas, o professor poderá trabalhar com maior tranquilidade, uma vez que passa a ter claro quais são os objetivos de aprendizagem para este estudante, especificamente, permitindo que ele avance em seu conhecimento e desenvolvimento.
!FIMPAG! !REF!LEAL, R. B. Planejamento de ensino: peculiaridades significativas. Universidade Federal de Fortaleza, 2008.
KLOSOUSKI, S. S.; REALI, K. M. Planejamento de Ensino como ferramenta básica do processo ensino-aprendizagem. Revista Eletrônica Lato Sensu, Paraná, 2008. Disponível em: http://goo.gl/VOYS3v. Acesso em: 24 nov. 2014.
OLIVEIRA, A. A. S.; MACHADO, A. C.; CAPELLINI, V. L. F.Avaliar e planejar: reflexões sobre a ação docente na diversidade. São Paulo: AVA Moodle Unesp [Edutec], 2014. Trata-se do texto 3 da atividade 4 do curso de Especialização em Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva do Programa Rede São Paulo de Formação Docente. Disponível em: http://goo.gl/oMYvGp. Acesso em: 25 set. 2014.
SANT'ANNA, F. M.; ENRICONE, D.; ANDRÉ, L.; TURRA, C. M. Planejamento de ensino e avaliação. 11. ed. Porto Alegre: Sagra / DC Luzzatto, 1995.
SMITH, D. D. Introdução à Educação Especial: ensinar em tempos de inclusão. Porto Alegre: Artmed, 2008.
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Figuras 1 a 3 enviadas por Andréa Carla Machado, Vera Lúcia Messias Fialho Capellini, Maria de Fátima Belancieri, créditos das autoras.
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